terça-feira, 5 de julho de 2011

O "dia do Senhor"

"Achei-me em espírito, no dia do SENHOR, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta." (Apocalipse 1:10)
"εγενομην εν πνευματι εν τη kυριακη ημερα και ηκουσα οπισω μου φωνην μεγαλην ως σαλπιγγος" (Apocalipse 1:10)

A expressão "dia do Senhor" é traduzida de "kυριακη ημερα", conforme o original grego. "Kυριακη" (kuriakos) significa "que pertence ao SENHOR", "concernente ao SENHOR", e, "ημερα" (hemera) significa "dia"; "dia natural". A expressão "kυριακη ημερα" (kuriakos hemera) é utilizada apenas uma vez na Bíblia e exatamente em Apocalipse 1:10.

Algumas traduções bíblicas trocam a expressão "dia do Senhor" por "domingo", fazendo com que muitas pessoas se confundam e acreditem que o "primeiro dia da semana" foi mencionado por João durante a redação do livro de Apocalipse.

A palavra "domingo" não aparece em nenhum momento nos livros originais que compõem a Bíblia, este vocábulo é inteiramente desconhecido nas Escrituras. Então, por que traduzir Apocalipse 1:10, colocando-se a palavra "domingo" como correspondente a "kuriakos hemera"?
A ORIGEM DA PALAVRA "DOMINGO"
Os dias da semana são denominados, pela Bíblia, de acordo com a cronologia registrada em Gênesis capítulo 1, e assim são conhecidos:
  • Primeiro Dia - Segundo Dia - Terceiro Dia - Quarto Dia - Quinto Dia - Sexto Dia - Sétimo Dia.
Deus chama o sétimo dia, também, de "sabbath" (sábado). Os demais não recebem denominação particular e são conhecidos ao longo das Escrituras Sagradas unicamente pela ordem numérica originada na criação. Com o surgimento da idolatria, o homem atribuiu nomes de astros e de deuses aos dias da semana. A Igreja de Roma com o intuito de combater essa "nomenclatura semanal" pagã utilizou o latim litúrgico ou eclesiástico, e, os dias da semana passaram a ser conhecidos, também, como:
  • Prima Feria - Secunda Feria - Tertia Feria - Quarta Feria - Quinta Feria - Sexta Feria - Sabbatum.
Posteriormente, essa igreja, substituiu "prima feria" (que refere-se ao primeiro dia da semana) por "dominicus dies", e, em seguida o intitulou como "dies Dominica" que significa "dia do Senhor", mesmo não havendo apoio ou autorização bíblica para tal designação.

Diversas línguas originárias do latim e, influenciadas pelo latim eclesiástico, tiveram a expressão "dominicus dies" como referência ao "primeiro dia da semana". Foi o caso da língua portuguesa que possui a palavra "domingo" derivada de "dominicus". Assim, a Igreja de Roma disseminou também por este meio, a crença (contrária aos ensinos da Bíblia) de que o domingo, primeiro dia da semana, é o "dia do Senhor".
O "DIA DO SENHOR" NA BÍBLIA
A expressão "dia do Senhor" surgi 27 vezes em toda a Bíblia (na versão Almeida Revista e Atualizada) e, distribuída em 25 versos. Com exceção de 2 versos, nos demais a expressão "dia do Senhor" está relacionada com o dia do: "ajuste de contas", "juízo final", "julgamento", "da volta de Jesus", ou seja, o dia na qual Deus executará Sua justiça de forma plena e definitiva. Os 23 versos que apresentam a expressão "dia do Senhor" com os significados mencionados são:
Isaías 2:12 - Isaías 13:6 - Isaías 13:9 - Jeremias 46:10 - Ezequiel 13:5 - Ezequiel 30:3 - Joel 1:15 - Joel 2:1 - Joel 2:11 - Joel 2:31 - Joel 3:14 - Amós 5:18 - Amós 5:20 - Obadias 1:15 - Sofonias 1:7 - Sofonias 1:14 - Zacarias 14:1 - Malaquias 4:5 - Atos 2:20 - I Coríntios 5:5 - I Tessalonicenses 5:2 - II Tessalonicenses 2:2 - II Pedro 3:10.
Nesses 23 versos a expressão "dia do Senhor" ocorre 25 vezes. E, as duas ocasiões em que ela não está relacionada com o "dia do ajuste de contas futuro", ou, com o "dia do juízo de Deus" são:
Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs." (Isaías 58:13)

"Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta." (Apocalipse 1:10)
Das 27 vezes em que a expressão "dia do Senhor" é mencionada, somente em Isaías 58:13 e Apocalipse 1:10, ela tem o significado diferente da grande maioria citada acima. E, uma delas está relacionada com o sábado do sétimo dia, chamado de "dia do Senhor" e, pronunciada diretamente por Deus.

A partir dessas informações pode-se concluir que: Ou João estava se referindo ao dia do juízo de Deus, o que seria pouco provável pela exegese do capítulo; ou referia-se ao sábado do sétimo dia, em uma alusão direta à citação do próprio Deus como está registrada em Isaías 58:13. E, esta última opção apresenta mais coerência, pois, na ocasião em que João escrevia o capítulo 1 de Apocalipse, ele se achava (em visão) no santuário celestial de Deus e, não é feita nenhuma relação da palavra dia com o "dia do juízo" ou "dia do julgamento" do SENHOR.

Independente dessas duas opções, é fato consumado que: João, definitivamente, não estava se referindo ao "primeiro dia da semana" (domingo) quando escreveu a passagem registrada em Apocalipse 1:10. A afirmação que o "dia do Senhor" nessa passagem se refira indiscutivelmente ao "domingo" é baseada em presunção e a Bíblia condena-a completamente. Peter Heylin, escritor eclesiástico da Igreja da Inglaterra, declara:
"Tomai o que quiserdes, ou os pais [da igreja] ou os modernos, e não encontraremos nenhum 'dia do Senhor'a instituído por mandamento apostólico: nenhum 'sabbath' [dia de repouso] por eles firmados sobre o 'primeiro dia da semana'. Vemos assim sobre que bases se assenta o 'dia do Senhor': primeiro sobre o costumeb e a consagração voluntária desse dia para reuniões religiosas; tal costume continuou favorecido pela autoridade da igreja de Deusc, que tacitamente o aprovava; e finalmente foi confirmado e ratificado pelos príncipes cristãos em todos os seus impérios. E como dia de descanso dos trabalhos e abstenção dos negócios, recebeu sua maior força dos magistrados civis enquanto detinham o poder, e a seguir dos cânones, decretos de concílios, decretos dos papas, ordens de prelados de categoria quando a direção dos negócios eclesiásticos lhes era exclusivamente confiada.

Estou certo de que assim não foi com o antigo sábado, o qual nem teve origem no costume - e o povo não se adiantara a ponto de dar um dia a Deus - nem exigiu qualquer favorecimento ou autoridade dos reis de Israel para ser confirmado ou ratificado. O Senhor falou que Ele queria ter um dia em sete, exatamente o sétimo dia da criação do mundo, para ser dia de repouso para todo Seu povo, e este nada mais tinha a fazer senão de boa vontade submeter-se à Sua vontade e obedecer-lhe.

Assim, porém, não ocorreu no caso em tela. O 'dia do Senhor' não tem nenhuma ordem para que deva ser santificado; mas foi evidentemente deixado ao povo de Deus determinar este ou outro dia qualquer, para uso notório. E assim foi adotado por eles, e tornado um dia de reunião da congregação para práticas religiosas; contudo, por trezentos anos não houve lei alguma que o impusesse aos crentes e tampouco se exigia a cessação do trabalho ou de negócios seculares nesse dia."1
a. Heylin em sua abordagem se vale da crença popular de que 'o dia do Senhor" é o domingo.
b. Ver na seção, "A Segunda Mensagem": O Concílio de Laodicéia.
c. Referindo-se a Igreja de Roma.


1. HEYLIN, P. (1636). The History of the Sabbath, London, vol. II, charp. I and III, sec. 12, p. 94-95.

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